sábado, 7 de janeiro de 2012

MORTE NAS ÁGUAS - A TRAGÉDIA DO CAJARI

MORTE NAS ÁGUAS - A TRAGÉDIA DO CAJARI

NOVO AMAPÁ

Postado by JOHN SCOTT - sábado, 07.01.2012 - às 9h48

Era noite de 6 de Janeiro de 1981, quando o barco ribeirinho Novo Amapá naufragou na foz do rio Cajari, próximo ao município de Monte Dourado (PA), levando às águas mais de seiscentas pessoas. Trezentas destas perderam a vida e dezenas passaram horas de pânico e desespero, imersas na água e na escuridão.

A embarcação, com suporte para transportar no máximo 400 pessoas e meia tonelada de mercadoria, partiu do Porto de Santana com mais de 600 passageiros e quase um tonelada de carga comercial. Seu destino era o município interiorano de Monte Dourado, com escala em Laranjal do Jari. Como as viagens anteriores duravam em torno de um dia e meio, seu proprietário havia reformado-lhe, instalando um motor hidráulico a mais, o que facilitaria na velocidade da embarcação.

A lista de despacho, segundo a Capitania dos Portos na época, tinha registrado cerca de 150 pessoas licenciadas pelo despachante Osvaldo Nazaré Colares. Mas na embarcação havia mais de 600 vidas. O despachante (falecido em abril de 2001, vítima de Dengue Hemorrágica) afirmou que só foi informado da tal lista após já ter partido há certas horas e que a lista foi deixada sob sua mesa, quando ele estava ausente.

O comandante responsável pela viagem, Manoel Alvanir da Conceição Pinto, seguiu todas as instruções necessárias do proprietário, sobre a viagem. O proprietário era Alexandre Góes da Silva, que teve seu corpo encontrado no camarote da embarcação. Hoje com 53 anos de idade e 29 de profissão marítima, Manoel Alvanir continua seus serviços como marinheiro. Atualmente trabalha em algumas embarcações no porto do Ver-o-Peso, em Belém. Poucas lembranças lhe vem à memória quando o assunto é a tragédia do Novo Amapá.

Seu único comentário volta-se para o comando do barco. Segundo versões de sobreviventes na época, a responsabilidade pela cabine de comando estava nas mãos inexperientes de um garoto. "Isso é mentira. Havia sim um garoto ao meu lado na cabine de comando, mas não deixei por nenhum momento ele pegar na direção do barco, como andaram dizendo", afirmou o ex-comandante que fez, da que seria uma simples viagem fluvial, o maior naufrágio da navegação brasileira.


"FOI INEVITÁVEL"

Segundo a lista da Capitania dos Portos do extinto Território Federal do Amapá, cerca de 650 pessoas embarcaram no Novo Amapá e menos de 180 puderam sobreviver. "Muita gente diz que foram duzentos e poucas pessoas que sobreviveram. Isto não é verdade", contradiz dona Creuza Marques dos Reis, sobrevivente hoje com 65 anos. Dona Creuza embarcou com sua filha e a neta. Somente ela e a neta de um ano e meio sobreviveram. Atualmente morando em Santana, tem como sustento um estabelecimento comercial diversificado.

Sobrevivente Armando da Silva Batista, hoje com 36 anos, trabalha na Champion Amapá no cargo de guarda patrimonial. Conta que uma das causas das inúmeras mortes terem ocorrido foi o auxílio dos salva-vidas. "Essas pessoas que pegaram os salva-vidas morreram quase todas porque dormiram e aquilo atrapalhou; não sabiam o que estava acontecendo", disse.

Funcionário de empresa que vendia utensílios de cozinha para toda a região do Amapá, Armando viajava freqüentemente em época de pagamentos, para fazer cobranças, acompanhado do colega Edson. Momentos antes da tragédia ambos haviam se separado. "Como a área das redes estava muito quente, disse pro meu colega que ia pro andar de cima e quem sabe só retornar de manhã", relatou.

Ao ser perguntado sobre o momento em que o barco tombou, Armando contou com detalhes: "Levei uns 15 minutos pra chegar na cabine. Quando cheguei lá, ele (comandante) mandou servir um café pra mim, pro Roberto (amigo) e duas meninas do Jari. Nos 15 minutos que cheguei lá, o barco deu um tombo para um lado e um tombo para o outro. Eu ainda perguntei pro Alvanir: 'Alvanir, isso é maresia?'. Ele disse: 'Rapaz, por incrível que pareça, nessa região não dá maresia'. Quando ele terminou de falar, o barco tombou de uma vez. Foi como uma virada de carro. Inevitável."

Buscando até mesmo com precisão a hora em que o barco tombou, foi o que aconteceu com o sobrevivente Enoque Magave da Silva, hoje com 41 anos, policial militar que, minutos antes do trágico tombo, conseguiu ver as horas em seu relógio de pulso: eram 20h45min. "Eu estava com relógio no braço e vi as horas normalmente. Quando de repente senti o barco virar lentamente. Como estava deitado numa rede de frente para uma senhora, fui um dos primeiros a parar logo dentro d'água na hora do tombo", contou Magave, que no mesmo ano do desastre casou-se com sua atual esposa e ingressou na Polícia Militar.

A recém-formada magistrada Kátia Isabel Andrade, hoje com 38 anos, era amiga pessoal da tripulação, principalmente do comandante Manoel Alvanir e do proprietário Alexandre Góes da Silva. "Tinha feito outras viagens no barco e já conhecia o pessoal", disse Kátia, que ironizou a tragédia momentos antes de acontecer, na hora da jantar. "Eu terminei de jantar e disse pro pessoal na mesa que ia me banhar e minhas colegas disseram: 'Tu vai morrer', daí eu falei: 'Não vou não. Se não morrer agora, não morro mais'. Daí fui pro banheiro, tomei banho e voltei pro camarote (...)". Segundo Kátia, foi tão rápida a virada do barco que ela só percebeu o que estava se passando quando as luzes do camarote se apagaram e que água circulava ao seu redor.

O DESASTRE

Após partir do Porto de Santana por volta das 14hs do dia 6 de Janeiro de 1981, a embarcação tombou aproximadamente às 21hs. A notícia da tragédia chegou à capital no dia seguinte, através de dois sobreviventes.

A verdadeira dimensão do desastre iniciou quando a imprensa local divulgou a lista de despacho na qual constava que somente 146 pessoas haviam sido liberadas para viajar, enquanto que na embarcação estiveram presentes mais de seiscentas pessoas.

Em menos de 48 horas toda a imprensa nacional voltou-se para o então Território Federal do Amapá, acompanhando todas as informações sobre a tragédia do Cajari. O jornal norte-americano New York Times do dia 10 de Janeiro publicou matéria na primeira página sob o título "Tragédia na Amazônia: 282 mortos".

CULPADOS

Segundo alguns sobreviventes, a inexperiência de um garoto na cabine de comando pode ter sido a causa do desastre. O garoto que muitos se referem pode ser José Roberto da Silva Pinto, hoje com 32 anos e que há pouco tempo trabalhava no cemitério onde foram enterradas as vítimas do naufrágio. "Isso é mentira dizerem que foi um garoto a causa principal da tragédia", disse José Roberto, criticando certas afirmações ditas na época pela imprensa.

Roberto era amigo da tripulação há tempos e, vez por outra, viajava no Novo Amapá a pedido do proprietário Alexandre Góes, que comandava a embarcação e também era dono de um estabelecimento comercial no município de Santana, onde Roberto já trabalhara. "Antes mesmo de começar a viajar no Novo Amapá, eu trabalhava num bar de que ele era dono", disse Roberto.

Alguns sobreviventes insinuaram que um banco de areia pode ter sido uma das principais causas do trágico tombo na foz do Cajari. Mas segundo certas informações que se encontram em livros geográficos e hidrográficos da época, o nível do rio Cajari era bastante alto para levá-lo a inclinar-se lentamente para as águas.

Outra grande causa - e a mais conhecida até hoje - vem a ser a superlotação da embarcação. Mas, pergunta-se: se a superlotação possa ter sido a causa do naufrágio do barco Novo Amapá, por que não tombou momentos após deixar o Porto de Santana, sabendo que havia uma grande quantidade de passageiros à bordo?

DINHEIRO

O Governo Territorial, que tinha como chefe executivo o comandante Annibal Barcellos, buscou auxiliar moralmente, mas a ajuda foi carente, tanto que a verba enviada do Governo federal para ser utilizada no resgate dos sobreviventes e servir parcialmente na indenização dos parentes das vítimas era de 25 milhões de cruzeiros (hoje em torno de 10 milhões), mas somente cinco mil cruzeiros foram usados, no que se levou a crer num desvio, assim divulgado pelo Jornal Amapá Urgente de 12 de Janeiro de 1981.

O fato entrou em processo jurídico um ano depois quando o advogado Pedro Petcov assumiu o caso, rolando pela Justiça federal por quase 15 anos. Após a morte do advogado em 1996, o caso foi arquivado sem ter alcançado o principal objetivo: indenizar os familiares das vítimas mortas e os sobreviventes. "Todos ainda têm uma esperança de algum dia receber algo da justiça pela aquela noite trágica", disse o sobrevivente Haroldo Fernandes de Souza, hoje com 44 anos, atual funcionário do Tribunal de Contas do Estado, na esperança de receber algum dia algo que compense a fatídica noite de 6 de Janeiro de 1981.

DADOS TÉCNICOS DO "NOVO AMAPÁ"

- Comprimento Externo: 25,10m

- Comprimento entre Perpendiculares: 22,50m

- Boca Máxima: 5,88m

- Boca Moldada: 5,70m

- Comprimento de Arqueação: 21,68m

- Tonelagem Bruta: 100,445 toneladas

- Tonelagem Líquida: 66,189 toneladas

Fonte: Arquivos da capitania dos Portos

Departamento Regional do Pará

Inquérito Marítimo nº 22.031 - pág. 117

Fonte: Edgar Rodrigues - jornalista.

O ESTADO PARALELO

Afinal, o que é esse governo paralelo?

Por Ricardo Santos

Postado by JOHN SCOTT - sábado, 07.01.2012 - às 09h44

Nos últimos dias o que mais se ouve falar nas redes sociais no Amapá é do tal governo paralelo, mas afinal, o que é isso? Num resumo é um gabinete alternativo ao governo, cujos membros são a "sombra" ou o equivalente de cada integrante deste. Ele já foi praticado em vários países, como Reino Unido, Canadá, e até mesmo no Brasil. A história conta que com a eleição de Fernando Collor de Mello, em 1989, instalou-se em certos círculos políticos suficiente grau de insatisfação para o anúncio em 1990 do tal "governo paralelo", com a participação do agrônomo José Gomes da Silva e de membros do Partido dos Trabalhadores, que fundaram o Instituto Cidadania. E a partir de 1992 o governo paralelo passou a ter entre seus conselheiros Luiz Inácio Lula da Silva, que mais tarde foi eleito presidente do Brasil.

Desculpem o rodeio, mas para escrever este artigo foi necessário recorrer a história, com a ajuda do google, para entendermos melhor o que se passa em nosso longínquo Amapá. Para então chegarmos a conclusão que, como diz a nossa ilustríssima vice-prefeita Helena Guerra, uma coisa é uma coisa e a outra coisa é outra coisa.

Se não vejamos, nos lugares onde surgiu esse tal governo, as pessoas que estavam a frente dele, eram, até onde se sabia, de uma índole ilibada, ou seja, tinham moral para fiscalizar e exigir algo do governo oficial e o objetivo era contribuir para o desenvolvimento e não provocar a estagnação e o medo.

Mas o que tem esses ilustres senhores que fazem parte do tal governo paralelo, ou o apoiam, a oferecer para a sociedade amapaense? Gilvam Borges: usurpou dois mandatos de senadores e não há nada nos anais da história que indique um trabalho relevante em prol do Amapá e outras coisas mais. Pedro Paulo, Waldez, Marília, Roberto Góes. Em comum têm o fato de terem sido presos pela operação Mãos Limpas que causou prejuízo ao Amapá acima de um bilhão de reais.

Poderia passar varias laudas escrevendo a ficha de cada um deles. Mas para resumir por que o governo paralelo não foi criado antes? Será que em 2008, 2009 e 2010 não ocorreu anda de errado neste Estado? Porque o ex-senador Gilvam Borges ficou calado diante da operação Mãos Limpas? Será que esses senhores querem testar nossa inteligência? Será que ao contrário do que dizem querem aplicar o golpe e tirar na marra o governador Camilo Capiberibe do poder? O que eles querem afinal?

Num estado democrático todos são livres para fiscalizar, criar seja o que for. E isso é importante. Afinal foi justamente o silêncio deles que arruinou o Amapá, nos transformando em vergonha nacional.

Mas a verdade é que o governo paralelo não trabalha em prol do Amapá. Eles legislam em causa própria. E como Gilvam Borges gosta de metáforas posso dizer então que não se pode deixar um lobo cuidar do galinheiro. E neste caso não se trata apenas de um lobo, mas sim de uma matilha, que durante anos mamou nas tetas do Amapá.

Fonte: Ricardo Santos